Terapia Comportamental Integrativa para Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT)

A terapia de casal que tem como base as Terapias Comportamentais Contextuais é a Terapia Comportamental Integrativa para Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT). Seus principais autores foram Neil Jacobson e Andrew Christensen. A IBCT propõe a aceitação como um dos principais diferenciais em relação a outras modalidades de terapia de casal. Não se refere à resignação ou submissão, tampouco a aceitar o inaceitável, como exemplo a violência, mas aceitar características de personalidade, situações da vida que não serão alteradas ou os próprios processos internos diante de situações com o cônjuge. O termo ‘Integrativa’ sugere integração entre a mudança necessária e a aceitação do que não se pode mudar (South, Doss & Christensen, 2010). É um tratamento para casais que têm uma significativa meta pesquisa, documentada e baseada em evidências, mostrando sua efetividade. Tanto que o Instituto Nacional de Saúde Mental do governo dos Estados Unidos definiu esta terapia nos serviços públicos como um de seus tratamentos para casais.

O trabalho com a IBCT tem um processo de quatro fases: avaliação do caso, feedback para o casal, a fase ativa do tratamento e finalização. A etapa de avaliação inicial inclui uma sessão com o casal junto mais dois encontros com cada parceiro/a individualmente. A formulação de caso é em torno dos temas do casal, ou padrões comportamentais mais comuns, classes de respostas mais típicas. Por exemplo, controle versus responsabilidade, dependência versus autonomia, proximidade versus distância. Um dos principais aspectos é a armadilha mútua na qual o casal se insere na tentativa de resolver seus problemas ou diferenças. O que ocorre é que estas mesmas tentativas de solução representam a polarização que gera a reatividade emocional que impede respostas possíveis. Por exemplo, a tentativa de solução é manifestada por críticas (ou invalidação do outro), discussões acaloradas, silêncios mortíferos… estes padrões, que originalmente seriam esforços para resolver o problema, transformam-se na ‘doença’ da relação conjugal (Jacobson, Christensen & Doss, 2014).

A avaliação inicial é denominada DEEP. Esta palavra em inglês significa profundo, isto é, uma análise profunda do funcionamento conjugal. Como num acróstico, cada letra representa: Diferenças do casal em relação ao tema de conflito, questões Emocionais diante do tema (muitas vezes desconhecidas para o cônjuge), fatores Externos que possam estar influenciando na polarização do casal (por exemplo, a família de origem, mudança de trabalho, nascimento de um filho, etc.) e o Padrão comportamental utilizado para lidar com os temas. Como auxílio para coleta de dados para a formulação do caso, são aplicados questionários de autorrelato que se referem ao último mês antes da busca pela terapia de casal. Estes avaliam a satisfação conjugal, o grau de compromisso com a relação, os pontos fortes do casal, as áreas problemáticas, se há ou não violência, frequência e aceitabilidade de comportamentos positivos e negativos de cada parceiro(a). Na quarta sessão, conjunta, é realizado um feedback desta avaliação para o casal, na qual ambos discutem com o terapeuta sobre cada item apresentado. Após a devolução da formulação de caso, ambos se posicionam em relação a iniciar, ou não, a terapia de casal (Jacobson & Christensen, 1996; Mairal, 2016; Lins, 2018).

A fase de intervenção é com sessões organizadas partindo de incidentes recentes que se conectam aos problemas básicos (presentes na formulação de caso). É utilizado um questionário semanal, o qual avalia a satisfação, incidentes positivos e negativos durante a semana ou alguma situação que possa estar por acontecer. Funciona como agenda para a sessão. As técnicas de intervenção são gradualmente propostas de acordo com as necessidades do casal. Para o trabalho terapêutico são utilizadas as seguintes estratégias: de Aceitação, de Tolerância e de Mudança.

As Estratégias de Aceitação são ferramentas para gerenciar as incompatibilidades, as diferenças que parecem problemas irreconciliáveis. Envolve recuar da insistência em mudar o outro, desapego da ideia de que as diferenças mútuas são insuportáveis e abandonar a luta para moldar o casal numa imagem idealizada de relação. Por fim, é um método pelo qual os problemas podem servir como veículos para melhorar a intimidade e proximidade mútua. Há duas principais formas de trabalhar a Aceitação:

União Empática
Propõe expressar a dor ou a angústia de uma forma que não inclua acusação, acessando as emoções brandas (por exemplo a tristeza) que estão por trás das duras (por exemplo a raiva). É uma forma de perceber que somos o que somos devido às experiências da vida, e não como seres errados. Uma maneira de gerar essa aceitação é colocar o comportamento de um parceiro em contato com sua história pessoal. O que se faz é contextualizar a conduta que é considerada problemática dentro da formulação do problema. Assim, o comportamento negativo é visto como parte de suas diferenças.

Distanciamento Unificado
Refere-se a distanciar dos conflitos e discussões por meio de uma análise intelectual do problema e favorecer o diálogo imparcial, descritivo. Trata-se de poder falar sobre um incidente negativo quando ele surge como se fosse “ele”, visto que, muitas vezes, esquecemos o ser humano e ficamos com a etiqueta atribuída a ele. Parte do trabalho é aliviar as categorias, afastar das palavras, baixar o nível de crítica. E é unificado, porque precisa dos dois juntos para enfrentar o problema.

Um aspecto importante é parar de manter os pensamentos como verdades pragmáticas, mas não é um pedido para mudar, debater ou desafiar os pensamentos. É poder vê-los pelo o que são: pensamentos, os quais devem ser observados com curiosidade. Para isto podem ser utilizadas as práticas que promovam um estado de mindfulness, ou atenção plena.

As Estratégias de Tolerância são um nível diferente de aceitação que propõe, ao menos, tolerar o comportamento do outro, tanto quanto for possível (salvo situações extremas como, por exemplo, violência e dependência química). Em alguns casos, as técnicas de tolerância podem facilitar o caminho para a aceitação. São: destacar os aspectos positivos de um determinado comportamento dito negativo; praticar condutas negativas na sessão; fingir discussões em casa e intervenções de autocuidado, partindo do princípio de que o(a) parceiro(a) não pode satisfazer todas as necessidades todo o tempo, possibilitando outros caminhos para satisfação pessoal.

As Estratégias de Mudança se referem ao treinamento de habilidades de comunicação, de resolução de problemas e o intercâmbio de comportamentos (uma seleção de condutas que o cônjuge gostaria e a tentativa de colocá-las em prática, observando o que ocorre na relação). Estas estratégias são derivadas da terapia de casal comportamental tradicional.

Uma das propostas dos autores foi tornar a IBCT disponível para um número maior de pessoas. Sendo assim, Jacobson, Christensen e Doss (2014)escreveram o livro Reconciliable differences: Rebuild your relationship by rediscovering you love – without losing yourself. Em 2018 foi traduzido para o português: Diferenças Reconciliáveis: reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder. É um livro de autoajuda para casais baseado nos princípios da IBCT.

Por fim, o principal objetivo é a conquista de um relacionamento mais adaptativo à realidade psicológica de cada cônjuge, baseado em aceitação, a qual é considerada o elo perdido que faltava para a terapia de casal. A proposta não é não ter problemas, mas ter uma vida conjugal satisfatória, com conflitos menos intensos ou que causem menos dor e com reconciliações mais compassivas, promovendo maior intimidade.

​​Texto elaborado por Mara Lins

Sugestões de textos em português sobre a IBCT:

Christensen, A. Doss, B. Jacobson, N. (2018). Diferenças Reconciliáveis: Reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder. Tradução de Mara Lins e Marisa Rozman. Novo Hamburgo: Sinopsys. Segunda Edição.

Lins, M. (2019). Terapia Comportamental Integrativa de Casal. In Melo (Organizador). A prática das intervenções psicoterápicas – como tratar pacientes na vida real. Novo Hamburgo: Sinopsys

Plentz, RD, Andretta, I. A eficácia das terapias comportamentais de casal na satisfação conjugal, Ver. Bras. Psicoter. 2014; 16(3): 30-43. Acessado em junho de 2015: http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=16

Vandenberghe, L. (2006). Terapia comportamental de casal: uma retrospectiva da literatura internacional. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 8(2), 145-160. doi:10.31505/rbtcc.v8i2.97

Vandenberghe, L. (2015). Terapia Comportamental Integrativa de Casais in Lucena-Santos, P. Pinto-Gouveia, J. Oliveira, M. (Organizadores). Terapias Comportamentais de Terceira Geração: guia para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys.

Links:

QUESTIONÁRIOS IBCT PARA AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO CONJUGAL

O que é a Terapia Comportamental Integrativa de Casal, ou IBCT?

O CONFLITO CONJUGAL E A ACEITAÇÃO DAS DIFERENÇAS

Padrão de Comunicação: como se entra numa armadilha?

COMO SERIA UMA RELAÇÃO AMOROSA COM ACEITAÇÃO?

INFIDELIDADE E O DIFÍCIL -E POSSÍVEL- RESGATE DA CONFIANÇA

ACEITAÇÃO E MUDANÇA NAS RELAÇÕES CONJUGAIS