Psicoterapia Analítica Funcional

A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP, do original Functional Analytic Psychotherapy) é uma das abordagens terapêuticas inseridas nas Ciências Contextuais, tendo suas raízes no Behaviorismo Radical. 

Na década de 80, Robert Kohlenberg e Mavis Tsai desenvolveram a FAP ao analisarem funcionalmente sessões de psicoterapia conduzidas pela Mavis, sob supervisão de Robert. Os resultados atingidos pelos clientes dela apresentavam-se mais amplos e ricos do que os resultados normalmente alcançados por outros clientes e esse fato despertou a curiosidade de ambos. Ao analisarem funcionalmente os atendimentos realizados, através de gravações, observaram que havia um foco na relação terapêutica, de modo que um processo de modelagem de repertórios interpessoais era conduzido ao longo da terapia. Ao sistematizarem essas observações, passaram a aprimorar a prática da FAP através da teoria que vinham desenvolvendo. 

Desse modo, terapeutas utilizando a FAP trabalham com análises funcionais como forma de embasar sua ação em sessão, tendo como objetivo a construção de novas respostas no repertório do cliente. Uma das premissas da FAP é a de que a forma como o cliente se comporta em sessão é funcionalmente semelhante à forma como se comporta fora de sessão e, por isso, intervenções in vivo realizadas diretamente no repertório interpessoal, levariam a mudanças nos relacionamentos interpessoais do cliente em seu dia a dia, alcançando melhoras terapêuticas.

Para que essa modelagem de repertório aconteça em sessão é promovida uma relação terapêutica íntima e significativa, que cause real impacto na vida do cliente. Baseado, portanto em uma conceituação de caso de seu cliente, o terapeuta vai proporcionar um ambiente terapêutico que permita e propicie o aparecimento das dificuldades de relacionamento do cliente em sessão, na própria relação com o terapeuta. Tais dificuldades são nomeadas como Comportamentos Clinicamente Relevantes do tipo 1 (CCR1) e o terapeuta deve auxiliar o cliente a desenvolver e emitir melhoras, nomeadas como Comportamentos Clinicamente Relevantes do tipo 2 (CCR2).

Assim, o terapeuta deve: estar consciente do processo vivido pelo cliente em sessão, estando atento aos CCRs do cliente (Regra 1), evocar novos comportamentos (Regra 2), reforçar comportamentos de melhora (Regra 3), avaliar o efeito de suas intervenções (Regra 4) e trabalhar pela generalização das respostas aprendidas de dentro para fora da sessão (Regra 5).

No entanto, para que tudo isso seja colocado em prática, é necessário que o terapeuta esteja atento também ao seu próprio comportamento, pois, por se tratar da evocação e modelagem de repertórios interpessoais, em muitos momentos, são identificadas dificuldades pessoais do terapeuta que dificultam esse trabalho (T1). Desse modo, é imprescindível uma atenção especial aos comportamentos do terapeuta que precisam ser desenvolvidos (T2) para uma melhor condução de cada caso. 

Assim, em linhas gerais, faz-se importante o desenvolvimento de: uma aguçada consciência de si mesmo, bem como consciência do outro envolvido numa relação íntima; habilidade de emitir respostas passíveis de punição pelo cliente, já que o terapeuta o estará convidando a emitir novos repertórios e; habilidade de acolher o cliente tanto em suas melhoras, como em suas dificuldades, criando um ambiente de aceitação e incentivo. Tais habilidades do terapeuta tem sido descritas na área com os termos mediadores “consciência, coragem e amor”, com o objetivo de auxiliar o terapeuta no reconhecimento de suas próprias dificuldades e de suas necessidades de melhora. 

A partir do aprofundamento da compreensão da necessidade de trabalhar o repertório do próprio terapeuta para prepará-lo para seus atendimentos, a forma de ensino da FAP se aprimorou ao longo dos anos, apontando a importância de cursos experiências e não apenas teóricos, com o objetivo de modelar tais comportamentos no repertório do terapeuta. 

Mais especificamente no Brasil, a FAP foi vista com bons olhos pelos analistas do comportamento que entraram em contato com a teoria. A principal difusão da abordagem ocorreu através da tradução do primeiro livro da FAP, realizada por Fátima Conte, Alice Maria Delliti, Maria Zilah Brandão, Priscila Derdyk, Rachel Kerbauy, Regina Wielenska, Roberto Banaco e Roosevelt Starling (Kohlenberg e Tsai, 2001). Em 1999, Robert Kohlenberg veio ao Brasil ensinando a FAP, a convite da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC). E, em 2011, a convite do Laboratório de Terapia Comportamental do Departamento de Psicologia Clínica da USP (LTC-USP), Jonathan Kanter trouxe para o Brasil o primeiro workshop FAP com ensino prioritariamente experiencial, no qual conduziu os participantes a um treino dos repertórios tidos como importantes pela abordagem. Desde então, o ensino da FAP tem ocorrido no Brasil através de cursos tanto teóricos como experienciais. 

Bibliografia recomendada:

Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (2001). Psicoterapia Analítica Funcional (F. Conte, M. Delliti, M. Z. Brandão, P. R. Derdyk, R. R. Kerbauy, R. C. Wielenska, R. A. Banaco, R. Starling, trads.). Santo André, SP: ESETEc (Obra publicada originalmente em 1991).

Villas-Boas, A., Oshiro, C. K. B., & Vartanian, J. F. (2018). Psicoterapia Analítica Funcional (FAP): Mudança clínica evocada e modelada pela vivência terapêutica (p. 87-94). In: Andrés Eduardo Aguirre Antúnez; Gilberto Safra. (Org.). Psicologia Clínica: da Graduação à Pós-graduação. Rio de Janeiro: Atheneu.

​Texto elaborado por Alessandra Villas-Boas